João Tuna (autor da fotografia vencedora do Cartaz TODOS'20)

DESOCULTAÇÃO PELO RETRATO FOTOGRÁFICO


Texto © Sarah Adamopoulos
Fotografia © Rosa Reis

Houve, há e sempre haverá outros fotógrafos de cena – parcela específica deste grupo de profissionais que fazem da fotografia o seu ofício, por vezes a sua arte –, mas creio que é consensual dizer-se que o nome de João Tuna (n. 1967) é um dos primeiros nomes a vir à mente de quem procure identificar os mais proeminentes de entre os fotógrafos portugueses que passam os seus dias a retratar os que habitam os palcos de teatro e os plateaux de cinema. Não por acaso, o retrato torna-se central neste tipo de fotografia, o que, se aliado a uma boa capacidade narrativa (i.e., a de conferir determinado tipo de qualidades à composição fotográfica) sem dificuldade explica que João Tuna fosse um nome natural, de alguém que estava destinado à aventura de fotografar para o TODOS. Pois há nos seus retratos qualidades autorais que os tornam muito apelativos para um grande evento da cidade de Lisboa no qual, desde a primeira hora, tanto a fotografia como as artes performativas tiveram papéis preponderantes. 


«O TODOS é um gesto democrático, porque é construído a partir das coisas comuns da comunidade, das praças, dos cafés, das lojas, das casas das pessoas, das comidas, para criar matérias visíveis: espectáculos, exposições, concertos, que tornam todos visíveis e se destinam à própria comunidade.»João Tuna, fotógrafo, autor de Dentro da escola tenho 9 anos e co-autor de São Vicente de Fora para dentro



João Tuna gosta de fotografar comunidades, porque, disse, é um trabalho que lhe permite chegar a pessoas improváveis, habitualmente proporcionando-lhe encontros felizes com pessoas que têm uma fisicalidade que lhe interessa capturar. Para a edição deste ano, preparou duas exposições: Dentro da escola tenho 9 anos– um conjunto de retratos de crianças da Graça que foram fotografadas para a edição do TODOS do ano passado, que o público do Festival poderá ver entre 19 e 22 de Setembro, e que ficarão permanentemente expostos nas paredes da Escola Básica de Santa Clara (constituindo uma oferta do TODOS para a comunidade escolar local presente e vindoura) –, e uma das cinco exposições que integram a habitual grande mostra fotográfica colectiva do Festival TODOS, este ano intitulada São Vicente de Fora para Dentro (patente durante o Festival na antiga Escola Oficina N.º 1 e nas paredes do Quartel da Graça). 



Não sendo o fotógrafo um chasseur d'images, dez senhoras que trabalham no bairro da Graça – sobretudo em limpezas, que todos os dias se deslocam para ali provindas de outros lugares, habitualmente dos arredores da Grande Lisboa – foram levadas para estúdio. A dureza das vidas destas senhoras pode ver-se nos seus olhares duros, opacos à sedução fotográfica. O que era invisível desocultou-se. São Vicente é habitado também por estas pessoas que habitualmente dormem em bairros da periferia de Lisboa e o TODOS mostra-no-las. Talvez alguns as conheçam, de as ver passar na rua. Não por acaso os retratos de João Tuna estarão patentes em telões afixados na fachada do Quartel da Graça. Eis, numa escala que os torna inevitáveis, alguns 'outros' de São Vicente – os dos bastidores do bairro, os que chegam de manhãzinha, desaguados de lugares distantes de onde se sai e para onde se regressa apanhando vários transportes públicos.

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