LISBOA CROSSING

            LISBOA CROSSING

            Do Campo Pequeno a Santa Clara

            Nesta edição do TODOS, Laurent Boijeot e Sébastien Renauld vão atravessar uma parte de Lisboa, com vias rápidas e muito trânsito, e essa performance vai demorar 13 dias. Duas camas de casal, duas mesas, oito cadeiras, duas mesas altas e dois bancos, eis o mobiliário que vai andar literalmente às costas de Laurent e de Sébastien, entre o Campo Pequeno e as Galinheiras. A performance já passou pelas maiores metrópoles do Mundo, e em todos os lugares encantou e desconcertou. Imperdível, Lisboa Crossing vai estar na rua entre os dias 30 de agosto e 10 de Setembro. 

            Texto de Sarah Adamopoulos

            Fotografias de Clément Martin 

            Os artistas de rua Laurent Boijeot, writer e performer, e Sébastien Renauld, arquiteto e performer, formam desde 2010 uma dupla que tem levado a cabo projetos de grande escala e impacto nas cidades por onde têm passado. É o caso de Lisboa Crossing, que o TODOS traz este ano à capital portuguesa. Veneza (2012), Paris (2013), Nova Iorque e Tóquio (2015), por exemplo, são algumas das grandes cidades por onde Laurent e Sébastien andaram durante dias a arrastar camas, mesas e cadeiras, ali comendo, ali dormindo, ali encontrando e recebendo gente, ali existindo ao sabor da grande aventura que é transformar a rua num enorme palco.

            As suas performances assentam num originalíssimo diálogo de partilha das cidades com as pessoas que as povoam ou que por elas passam, problematizando a noção de espaço comum – pois espaço público é para eles um conceito fortemente questionável em razão da propriedade privada que habita esse território comum –, a noção de espetáculo, a noção de emoção coletiva e ainda os limites da legalidade. “A noção de espetáculo transforma-se totalmente no contexto do que nós fazemos, porque consideramos que o público somos nós. Olhamos para a rua como se estivéssemos a assistir a um espetáculo de dança, por exemplo. Nesse sentido, se há espetáculo, ele não é a nossa performance mas o que ela provoca, juntamente com tudo o que se passa e lhe é alheio. Por todas essas razões, não gostamos da palavra espetáculo. Tal como não gostamos da expressão espaço público, porque esse espaço é na maior parte dos casos um espaço privatizado, que serve para publicitar e vender coisas. Para nós só existe a rua, que é o espaço onde duas pessoas que não se conhecem podem travar conhecimento”.

            A rua, de quem é?

            Perguntámos a Laurent o que vai acontecer no Lisboa Crossing. A resposta foi: “Vamos habitar Lisboa e vamos mudar de casa, carregando nós próprios os nossos móveis. Respondemos aos nossos e-mails, bebemos café, conversamos com as pessoas, fazemos as nossas refeições, dormimos, vivemos o nosso dia-a-dia, simplesmente, tal como faríamos nos nossos apartamentos, mas deslocando-nos com os nossos móveis e pertences, na rua.”

            O território da rua é, para Laurent e para Sébastien, o espaço da experimentação comunitária. A rua enquanto lugar de confluência, cujas fronteiras e identidades são também elas questionadas por estes dois artistas. Insólitas e insolentes, as suas performances são ações estruturadas em tempo real – não há ensaios, e nem sequer repérages. Não há artifícios – daí considerarem que o que fazem não são espetáculos (uma ideia que todavia pode ser objeto de debate).  Assim, o que a dupla cria é “da ordem da realidade – e não do espetáculo. Porque tudo o que nós fazemos na rua é verdadeiro, é real, não há truques, não há artifícios, apenas nós, a vivermos e a sermos quem somos, na rua, e a interagir com as outras pessoas que também estão na rua”. No fundo, queriam construir em tempo real um discurso novo sobre a rua, com os seus habitantes e as suas atividades humanas em curso. Juntos, começaram a criar performances que pudessem servir não apenas esses desígnios mas também razões de natureza mais propriamente política, de questionamento do espaço da rua. 

            Uma vez, duas freiras em Nova Iorque disseram-lhes que o que estavam a fazer era uma espécie de missionação. “Mas não fazemos proselitismo, não convidamos ninguém a sentar-se connosco à mesa, apenas esperamos que as pessoas o façam, se quiserem. Estamos evidentemente conscientes de que o que fazemos, por ser na rua, desperta a curiosidade das pessoas, e leva muitas delas a irem ter connosco, mas não forçamos nada. Por vezes há pessoas que passam por nós várias vezes, durante horas, antes de ganharem coragem para perguntar o que estamos ali a fazer.”  

            Laurent deita-se tarde e as suas manhãs começam mais tarde. Por isso, quando acorda, já as cidades estão a fervilhar de atividade. O seu sono parece ser à prova de todo e qualquer ruído urbano. “Durmo mesmo, é raro acordar e é também raro que alguém nos incomode. Tenho dormido muito bem durante as nossas travessias. Quando atravessámos Nova Iorque, durante um mês inteiro, passámos pela Broadway, que é uma zona que nunca pára, e eu dormi sem qualquer dificuldade. As pessoas respeitam o nosso sono. Tiram fotos enquanto dormimos, claro, é inevitável, mas não nos acordam. A não ser que tenham bebido muito – e nesse caso temos de ser nós a resolver qualquer problema que surja.”

            Sobre as suas performances já se disse na imprensa de referência internacional que «fazem reagir 96% da população com a qual nos cruzamos na rua mas nunca no teatro», que «são viciantes», que «nem os temporais os detêm, pois a sua determinação para completar os seus projetos é total, demonstrando a que ponto amam a ideia de experiência», que «servem sobretudo para as pessoas se encontrarem», que «emocionam quem está no espaço comum que habitam durante dias». Faça chuva ou faça neve, calor ou frio, Laurent e Sébastien percorrem sem estados de alma os quilómetros que distam entre um ponto A e um ponto B. Haja o que houver.

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